Poucas
construções no Brasil rivalizam em beleza com o prédio do Cassino de Lambari, e
certamente nenhuma tem história semelhante.
O
local escolhido foi o Alto da Fortaleza, propriedade de Jorge Ribeiro
da Luz e sua esposa, adquirida pela prefeitura em 05 de junho de 1909 por
quatrocentos mil réis.
O
projeto foi desenvolvido pela empresa Pole & Ferreira, do Rio de Janeiro,
muito famosa na época, juntamente com seu idealizador, Américo Werneck,
também engenheiro. As obras ficaram à cargo da mesma empresa e foram
iniciadas pouco após a compra da propriedade, ainda em 1909.
O
palácio, em estilo eclético, francamente inspirado por castelos
alemães, incorporava em seus 2.800 m² de área construída o que de mais
moderno existia em termos de funcionalidade e beleza. Em sua
decoração foram usados os mais nobres matérias importados de boa parte do
mundo. O telhado, de muitas águas, era todo feito em telhas vindas da França e
moldadas dentro de rígidas especificações.
Portas,
janelas e pisos vieram da Ásia, pedras de Portugal e França, mármore da
Itália, e até mesmo o cimento veio da Inglaterra. Hábeis artesãos
trabalhavam em turnos esculpindo pedra e madeira de tal forma que
cada peça fosse única e perfeita.
Vertedouro |
O
palco era projetado de forma a produzir excelente acústica, perfeito para
os grandes artistas nacionais e internacionais que iria receber. Seu
tamanho permitia que uma orquestra se instalasse confortavelmente e o teto permitia
alterações de tal forma para que o som podia ser "afinado"
para cada evento.
Mas
o complexo do Palácio Cassino de Lambari não se resumia ao prédio principal e
seus jardins. Incluía também o Lago Guanabara, o Farol e até mesmo
uma cascata projetada como vertedouro.
Farol, faz parte do complexo do Cassino do Lago |
Lagoa Guanabara |
O lago, perfeitamente desenhado, servia de espelho refletindo o palácio em todo o seu esplendor, fosse durante o dia banhado pelo sol, ou à noite, quando sua iluminação o fazia resplandecer. Gôndolas flutuavam em suas águas criando um ambiente absolutamente mágico. O farol banhava com sua luz o lago e o palácio, tornando-se um dos símbolos da cidade. Enfim, uma pequena cidade do Sul de Minas detinha uma paisagem totalmente europeia, onde nem mesmo faltavam as montanhas como moldura.
Operacionalmente
o cassino contava simplesmente com o melhor que o dinheiro podia comprar. Suas
mesas de jogos eram únicas, com madeira trabalhada por artesãos
especialistas, onde fichas e cartas poderiam deslizar com facilidade. As
roletas, todas vindas do exterior, eram peças grandiosas, onde metal, ébano e
marfim se misturavam de forma totalmente harmônica.
Conta-se
que os "croupiers" foram escolhidos a dedo e mandados à Europa
para treinamento. Portanto tudo estava perfeito e só faltavam os jogadores.
O
idealizador
Tudo começou com a vinda
de Américo Werneck para a região em 1889, quando se instalou na Fazenda dos
Pinheiros, de sua propriedade (hoje, Nova Baden).
Nascido
em Bemposta, Rio de Janeiro, formado em engenharia pela Escola Politécnica
do Rio de Janeiro, era um republicano de coração e durante o período
monárquico militou politicamente, principalmente através de artigos publicados
na Gazeta Sul Mineira, fundada pelo Partido Republicano.
Hábil
político, seu currículo à época já era vasto, tendo sido prefeito
interino de Belo Horizonte e Secretário da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas à convite do presidente de Minas Gerais, Silviano Brandão, sendo figura
de fácil trânsito nos governos e muito respeitado por sua capacidade
administrativa.
Homem
bastante culto (também era jornalista e escritor) viu a oportunidade de
transformar a pequena cidade mineira em algo semelhante às estações
hidrominerais que havia conhecido na Europa, especialmente na França,
assim, pôs mãos à obra.
Mandou abrir largas
avenidas, trouxe a iluminação pública, a distribuição de água encanada, criou o
Parque Wenceslau e resolveu construir um cassino nos moldes europeus. Seria sua
maior obra.
Pelo
que parece dinheiro não era problema, já que as obras que modernizaram a
cidade foram financiadas em boa parte pelo governo de Minas, e sua inauguração
contou com a presença do Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca, e
aconteceu no final de semana de 22 de abril de 1911.
Somente
no Palácio do Cassino foram gastos aproximadamente cinquenta mil contos de
réis, soma extremamente relevante para a época. Parte desse dinheiro pertencia
ao próprio Américo Werneck.
Dizem
que o sonho de Werneck ia além da cidade que administrava, e que ela estava
sendo preparada para tornar-se a capital de um novo estado, que seria formado
pelo sul de Minas Gerais. Tal ideia era abertamente apoiada por personagens
ilustres da época e considerada uma excelente resposta administrativa à
dificuldade de controle de um estado tão vasto como Minas Gerais.
Sonho de
uma única noite
Pronto o Palácio do
Cassino, e em consonância com o resto das obras realizadas em Lambari, foi
marcada sua inauguração. O final de semana da inauguração se
tornou inesquecível para a cidade. A pequena cidade foi invadida por
figuras relevantes, tanto de Minas como do Rio de Janeiro e São Paulo. A
presença do Presidente da República e sua comitiva foi o ponto alto, e demonstrava
de forma clara a importância do evento e a influência de Américo Werneck.
De Minas Gerais também estava presente seu presidente (à época era presidente e
não governador).
O
dia 24 de abril de 1911 consta oficialmente como o da inauguração, quando
o Palácio do Cassino foi aberto e apresentado à todos. A festa à noite foi
maravilhosa com todos encantados com o que viam. O clima de alegria, porém não
atingia a todos.
Até
hoje não se sabe exatamente a razão do esfriamento repentino do relacionamento
de Werneck com os outros senhores do poder, mas o resultado não se fez esperar:
no dia seguinte o cassino já estava fechado, confiscado pelo Estado Brasileiro.
Muitas
histórias são contadas sobre o episódio mas o certo é que não existe um
registro fidedigno do ocorrido. Se houve um embate de pretensões, sejam
políticas ou econômicas, ninguém vai saber. O certo é que Américo Werneck
perdeu, bem como a cidade.
Passado
quase um século o Palácio do Cassino continua a enfeitar Lambari. Conheceu
tempos melhores e piores, mas lá permanece como símbolo da ousadia e visão de
um homem incomum, do poder que trouxe a beleza europeia para o Sul de Minas, e
acima de tudo da ambição que pôs tudo a perder.
Fonte:
Circuito das Águas
Adorei conhecer a história desse espectacular edifício!... Que desconhecia por completo!...
ResponderExcluirE actualmente, as instalações são utilizadas para algum fim?... Nem que seja turístico?...
Um grande abraço!
Ana
Boa noite, Primeiro Parabéns pelo trabalho em seu blog, voce deveria mesmo ser jornalista, quanto a essa postagem é linda, nunca sequer imaginava ter em sua terra um castelo, quanto as demais publicações são todas muito interessantes como sempre. Parabéns.
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