Imagem: Arquivo pessoal |
Estava lendo há algum tempo, um artigo, em um jornal falando sobre pessoas que passam a vida perambulando pelas ruas dos grandes centros urbanos dormindo em baixo de pontes, viadutos e marquises de lojas. Também são vistos em praças públicas nas noites de verão. São pessoas que foram esquecidas
pela sociedade. O jornal citava o exemplo de um senhor que havia falecido
em novembro do ano passado às margens de um córrego de uma grande avenida da
cidade. Esse senhor desconhecido pelas autoridades após sua morte o
cadáver foi recolhido e encaminhado para o necrotério municipal onde ficou a espera que
alguém reclamasse seu desaparecimento, porém, passados seis meses não apareceu ninguém que se interessasse
pelo mesmo.
Foi sepultado como indigente devido à falta de documentação que provasse sua identidade. Não apareceu quem quer que
seja, ficou sem amigos, sem família, na verdade, sem dignidade. O caso
desse senhor serve apenas para ilustrar bem a maioria dessas pessoas que
perambulam pelas ruas, a maioria delas envolvidas com álcool e drogas na ilusão que essa atitude vai melhorar ou fazer com se esqueça o mundo em que viva. No cemitério, não havia quem chorasse sua falta,
como acontece na maioria dos velórios e enterros de pessoas que arrastam dezenas, às vezes
centenas de acompanhantes para uma despedida final.
No lugar onde deveria constar um nome, apenas a palavra
desconhecido, aparece em uma cova rasa, sem flores e mais nada que possa indicar que ali
também tem repousado um ser humano que nasceu, viveu e morreu sem deixar nenhuma história
escrita. Segundo os funcionários do local, muitas vezes, são enterrados de uma só
vez dezenas de pessoas que não havendo reclamação dos cadáveres acabam sendo
levados a um local especifico para esse tipo de sepultamento. Assim como sua
vida seus pertences também foram esquecidos e deixados em baixo da ponte onde
morava; um colchonete, um cobertor desses mais barato e um pedaço de plástico que, provavelmente, o
mesmo usava para se proteger do frio. Pessoas que morrem nas cidades sem identificação são
enterradas em um minuto sem nenhum ritual e com a presença apenas dos coveiros.
São sepultados sem oração ou despedida. Vivem e morrem como anônimos.
(a) J araújo