No final de 1840,
com 10 anos de idade, Luiz Gama foi colocado à venda em Campinas depois de ter
sido vendido pelo pai, em Salvador, para pagar dívidas de jogo. Mas ninguém
comprou. Ficou, no mercado da última cidade do País a abolir a escravidão, como
uma espécie de mercadoria encalhada. Era baiano, e escravos baianos tinham fama
de rebeldes, de fujões. Gente assim não era boa para ter nas fazendas. O menino
cresceu, construiu uma história extraordinária e tornou-se um rábula —
conhecedor de leis que exerce a advocacia sem ser advogado. Sua história
ganhará mais um capítulo na terça-feira. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
lhe concederá, após 133 anos de sua morte, o título de advogado.
Mesmo que tardia, é
o reconhecimento a um negro liberto que se tornou libertador de negros — ele
conseguiu alforriar, com recursos judiciais, mais de 500 escravos. Rábula,
poeta, abolicionista, Gama tem sua história ligada a Campinas pela escravidão.
Nascido livre, filho de mãe africana liberta e de pai português, acabou vendido
em Salvador e levado ao Rio de Janeiro, ao traficante português chamado Vieria,
que revendeu a “mercadoria” junto com um lote de cem escravos para o alferes
Antônio Pereira Cardoso. Depois de chegar ao Porto de Santos, o menino e os
outros negros do lote tiveram que vir a pé até Campinas.
Como mercadoria
encalhada, acabou virando escravo doméstico na propriedade do alferes, em
Lorena. Lá, aos 17 anos aprendeu a escrever. Alfabetizado, fugiu do cativeiro e
se alistou na Força Pública da Província, graduando-se cabo. Ficou ali até
1854, quando, segundo consta em sua biografia, deu baixa por um incidente que
ele classificou como “suposta insubordinação”, já que apenas se limitara a responder
o insulto de um oficial que ele classificou como “suposta insubordinação”, já
que apenas se limitara a responder o insulto de um oficial.
Gama tentou cursar
direito no Largo São Francisco, na Universidade de São Paulo (USP), mas, por
ser negro, enfrentou a hostilidade de professores e alunos. Mesmo assim,
persistiu como ouvinte das aulas. Não concluiu o curso, mas o conhecimento
adquirido permitiu que atuasse na defesa jurídica de negros escravos. Conseguiu
provar sua condição de livre e se tornou um grande defensor da abolição.
Conseguiu, via judicial, libertar muitos negros. Alguns textos falam em mais de
mil libertos.
Destacou-se como
jornalista e projetou-se na literatura em função de seus poemas, em que
satirizava a aristocracia e os poderosos de seu tempo. Gama se autodenominava
Orfeu da Carapina. É reconhecido como um dos grandes representantes da segunda
geração do romantismo brasileiro. Em 1869, fundou com Rui Barbosa o jornal Radical Paulistano e em 1880 foi líder da Mocidade
Abolicinista e Republicana. Ele ganhou notoriedade por defender que, ao matar
seu senhor, o escravo agia em legítima defesa. Morreu em 24 de agosto de 1882 e
está sepultado no Cemitério da Consolação, em São Paulo.
Escrito por:
Maria Teresa Costa/AAN
Vontade de vencer, não lhe faltou...
ResponderExcluirTomara esteja presente, em espírito, na homenagem que lhe será prestada em São Paulo. É bem possível.
Foi bom vir aqui Jota Araújo!
Beijos!
oiiiii...gostei.Muito interessante essa historia,obrigada por contar.Bju.Luciene.
ResponderExcluirUma história de vida, emocionante e tocante!...
ResponderExcluirAdorei ficar conhecendo!
Tardia... mas uma homenagem e reconhecimento mais que merecidos!
É sempre enriquecedor, passar por aqui, e apreciar seus posts, J. Araújo!
Uma tremenda partilha, por aqui!... Grata por isso...
Abraço!
Ana