Lá pelos cafundós das matas, o mendigo conhecido como "Sinhô Torresmo", baixinho, barrigudo, barbudo, e fedido de dar dó, pedia de porta em porta.
- Tum, tum, tum, oh dona Maria, sou eu mesmo Torresmo! Tem um lanchinho e um pouco de café pra mim?
- Ara!
Tem sim Torresmo, se achegue ai...
O tempo passava, e seu Torresmo gordo como ele só enquanto Lurdinha e Maria se arrebentavam de trabalhar para sustentar sua filharada levada da breca...
Um dia, a Lurdinha teve uma ideia:
- Oh Maria, meu pai deu um saco de arroz com casca! Ocê me ajuda com um saco de feijão e nóis, resorvemo de vez o pobrema do seu Torresmo.
Nóis dá tudo prele. Ta feito, vamo faze isso.
No dia seguinte Torresmo apareceu e para sua surpresa ganhou um saco de arroz e outro de feijão.
- Ah, dona, mas não quero!
E puf caiu durinho!
Foi uma gritaria e um corre-corre danado que só vendo...
Socorro! socorro seu Torresmo morreu!
Ajeitaram-no em um caixão com vela, e tudo que tem direito...
No caminho do cemitério, Seu Torresmo, murmura:
- Que é isso?
- Você morreu. Responde Lurdinha.
- Eu, o que? Morri? Ai, ai, ai e de que?
- Você morreu de susto, com os sacos de arroz e feijão.
- Aquele arroz com casca? Interroga Torresmo.
- É, diz Lurdinha!
- E você tira a casca para mim? Indaga o defunto.
- Eu não, seu folgado! Responde Lurdinha já sem paciência
- Então segue o enterro...
- Acorda homem, eu tiro a casca...Exclama Maria.
- Mas, você tira a casca pra mim? Depois cozinha...
- Nãããão Torresmo deixa de ser folgado! Só tiro a casca home
- Então segue o enterro...
O padre encomendou o corpo, por que alma não tinha mesmo. Jogou água benta no Torresmo, mandou fechar o caixão. O defunto grita:
- NÃO! Espera aí, eu fico com o arroz e o feijão. Por esses dias eu tenho mesmo que comprar mais uma casa, já está até alugada...
Histórias que o povo conta...
(Será que não temos algum ilustre político TORRESMO?).